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Publicidade Hoteleira: Cuidado com a Interpretação de Ofertas "Extras" e o Risco de Processos

A forma como seu hotel comunica suas ofertas e descrições de quartos no site e em outros canais de venda é crucial. Um texto que parece claro para a equipe pode ser interpretado de forma diferente por um cliente, gerando expectativas de gratuidade onde não existe, e, consequentemente, insatisfação e até ações judiciais.

Imagine a situação: um hóspede reclama que o texto no seu site deu a entender que o segundo quarto de uma reserva seria uma cortesia, quando na verdade ele precisaria pagar por ambos. Mesmo que, para o hotel, a descrição seja clara e não leve a essa interpretação, o cliente se sentiu lesado e ameaça com um processo. Como lidar com isso?

A Zona Cinzenta da Interpretação de Anúncios

O cerne da questão está na interpretação do consumidor. Para a equipe do hotel, uma oferta de "segundo quarto disponível" pode significar apenas que há a possibilidade de reservar outro quarto, que obviamente seria pago. Para o cliente, no entanto, a redação pode soar como um benefício adicional, uma "cortesia" ou uma "promoção".

É um desafio comum na publicidade: o emissor da mensagem (o hotel) tem uma intenção, mas o receptor (o cliente) pode ter uma percepção completamente diferente. Essa dissonância, especialmente em transações financeiras, é um terreno fértil para desentendimentos e litígios.

O Direito do Consumidor e a Ação Judicial

No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) protege o cliente contra publicidade enganosa ou abusiva. Se um consumidor se sente lesado por uma interpretação que ele considera razoável do anúncio, ingressar com uma ação judicial é um direito que não pode ser evitado.

Mesmo que o hotel não entenda que o texto "abre margem para entendimento de gratuidade ou cortesia", e mesmo que não haja precedentes de clientes com a mesma interpretação, a possibilidade de um juiz decidir a favor do consumidor existe. Juízes frequentemente interpretam o CDC em benefício do elo mais fraco da relação (o consumidor), especialmente em casos onde a ambiguidade da oferta pode ser comprovada pelo cliente.

O Que Fazer para Minimizar Riscos e Lidar com a Situação?

1. Revisão Crítica dos Textos Publicitários:

• A lição mais importante é a revisão constante e crítica dos textos do site, plataformas de reserva e qualquer material de marketing.

• Peça para pessoas de fora da sua equipe (amigos, familiares) lerem as descrições de ofertas complexas ou promoções e darem suas primeiras impressões. Isso pode revelar pontos de ambiguidade que passam despercebidos por quem já está acostumado com a comunicação interna.

• Utilize linguagem clara e inequívoca. Se um segundo quarto tem custo, deixe isso explícito: "Segundo quarto disponível para reserva com custo adicional" ou "Tarifa referente a um quarto. Para o segundo quarto, consulte valores."

2. Transparência nos Preços:

• Garanta que os valores e o que está incluído na tarifa sejam extremamente transparentes em todas as etapas da reserva. O cliente deve ter a certeza absoluta do que está pagando antes de confirmar a compra.

3. Análise Comercial do Caso:

• Além do ponto de vista jurídico, o hotel precisa considerar a ótica comercial. Mesmo que haja uma boa chance de ganhar a causa judicial, o custo (honorários advocatícios, tempo da equipe, desgaste da imagem) pode ser maior do que o valor da disputa.

• Em alguns casos, uma negociação para oferecer um voucher, um desconto em futura hospedagem ou até um reembolso parcial pode ser uma solução comercialmente mais inteligente para preservar o relacionamento com o cliente e evitar o desgaste de um processo.

4. Histórico e Precedentes:

• Embora a ausência de casos anteriores não garanta a vitória em um processo futuro, o hotel deve documentar qualquer ocorrência como essa. Isso ajuda a identificar padrões em reclamações e a refinar a comunicação para evitar problemas semelhantes no futuro.

Conclusão: Clareza é a Melhor Estratégia de Defesa

A melhor defesa contra reclamações de clientes sobre ofertas e preços é a clareza absoluta na comunicação. O objetivo da publicidade é informar e atrair, não gerar expectativas irrealistas.

Analise cada reclamação sob a perspectiva do cliente, avalie o risco jurídico e, principalmente, pese o impacto comercial. Às vezes, um acordo extrajudicial pode ser a forma mais eficaz de proteger a reputação do seu hotel e evitar dores de cabeça futuras.

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