Ex-colaborador não comparece ao demissional ou à rescisão: O que fazer?

O processo de desligamento de um colaborador deve seguir uma série de etapas para garantir a conformidade legal e evitar futuros problemas para a empresa. No entanto, o que acontece quando o ex-colaborador não comparece para finalizar o processo, como realizar o exame demissional ou assinar a documentação rescisória? Essa é uma situação mais comum do que se imagina e exige uma abordagem cuidadosa.
Vamos analisar um caso prático e as melhores orientações para sua empresa lidar com essa situação.
O Cenário Comum: Desligamento e Ausência do Ex-Colaborador
Em um exemplo recente, uma funcionária foi desligada, recebeu a carta de desligamento com as datas para o exame demissional e a entrega da documentação rescisória, assinou e levou uma cópia. Contudo, mesmo após o pagamento das verbas rescisórias no prazo legal, ela não compareceu para o exame demissional, nem para a assinatura e recebimento dos documentos finais, e também não devolveu pertences da empresa, como uniformes e crachá. As tentativas de contato por telefone não tiveram sucesso.
Essa situação gera uma série de preocupações e a necessidade de saber como a empresa deve proceder para se resguardar.
A Questão do Exame Demissional: Obrigação x Nulidade
A realização do exame médico demissional é uma obrigação legal da empresa, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e nas Normas Regulamentadoras (NRs). Seu objetivo é atestar a saúde do empregado no momento da rescisão e verificar se não há nenhuma doença ocupacional adquirida durante o período de trabalho.
É importante ressaltar que, ressalvadas as hipóteses de dispensa tratadas na legislação trabalhista, a falta do exame médico demissional não acarreta a nulidade da dispensa do empregado. Ou seja, a demissão continua sendo válida mesmo sem o exame. No entanto, a ausência do exame pode acarretar em:
• Sanções Administrativas: A empresa pode ser autuada e multada por órgãos fiscalizadores, como o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
• Riscos Judiciais: Em uma eventual reclamatória trabalhista, a ausência do exame pode ser usada pelo ex-colaborador como argumento, levantando suspeitas sobre sua condição de saúde na saída da empresa e expondo a empresa a um risco de condenação.
Como proceder diante da ausência do ex-colaborador?

Considerando que o pagamento das verbas rescisórias já foi realizado no prazo legal, a empresa deve seguir alguns passos para se proteger e tentar regularizar a situação:
1. Envio de Telegrama/Notificação com Aviso de Recebimento (AR):
- Esta é a medida mais recomendada. Envie um telegrama ou carta registrada com Aviso de Recebimento (AR) para o endereço do ex-colaborador.
- No comunicado, estabeleça um novo prazo para que ele compareça e realize o exame demissional, assine as documentações rescisórias e, principalmente, devolva as pertenças da empresa (uniformes, crachá, equipamentos, etc.).
- AR serve como prova de que o ex-colaborador foi notificado.
2. Documentar Todas as Tentativas de Contato:
- Mantenha um registro detalhado de todas as tentativas de contato (chamadas telefônicas, e-mails, mensagens) feitas para o ex-colaborador, com datas e horários. Isso prova que a empresa agiu de boa-fé e tentou cumprir suas obrigações.
3. Registro de Ocorrência (em casos extremos):
- Se as tentativas de contato e notificação formal não surtirem efeito, e especialmente se houver a retenção de bens da empresa (como notebooks, celulares corporativos, ferramentas de trabalho), a empresa pode considerar registrar um Boletim de Ocorrência por apropriação indébita. Esta é uma medida mais drástica e deve ser avaliada com o jurídico.
4. Acompanhamento da Clínica Responsável pelo Exame:
- Mantenha contato com a clínica de medicina do trabalho responsável pelos exames para verificar se o ex-colaborador compareceu. Isso reforça a proatividade da empresa em cumprir a obrigação.
A Importância da Boa-Fé e da Documentação
Em todas as etapas, a boa-fé da empresa é fundamental. Demonstrar que todas as medidas cabíveis foram tomadas para que o ex-colaborador cumprisse suas obrigações rescisórias e realizasse o exame demissional é crucial para se resguardar em caso de futuras disputas.
A documentação completa (carta de desligamento assinada com aviso das datas, comprovante de pagamento das verbas rescisórias, comprovantes de envio de telegramas/ARs, registros de contato) é sua principal aliada para provar que a empresa agiu corretamente.
Conclusão: Agir Proativamente para Evitar Passivos Futuros
A ausência do ex-colaborador no processo rescisório não deve paralisar a empresa. Agir de forma proativa, documentando todas as etapas e utilizando os meios legais disponíveis (como o telegrama com AR), é essencial para mitigar riscos trabalhistas e garantir que as obrigações da empresa sejam consideradas cumpridas, apesar da falta de colaboração do desligado.
Sua empresa já enfrentou uma situação como essa? Como você agiu? Compartilhe sua experiência nos comentários!